terça-feira, 3 de março de 2015

SEM JUÍZO



            - Que o réu se apresente!

            - To na área, chefia.
            - Nome?
            - São Sebastião do Rio de Janeiro.
            - Vulgo?
            - Cidade maravilhosa.
            - Endereço?
            - Coração do meu Brasil.
            - Idade?
            - 450 anos.
          - Advirto o réu sobre a seriedade desta audiência. Sou conhecedor de sua índole irreverente e provocativa, mas lembre-se que está sob juramento.
            - Que é que “tá pegando”, cidadão?
            - Respeito! Se dirija a mim por “Excelência”!
            - “Fechado”, excelentíssima chefia.
            - ...
            - Foi mal.
            - Vou repetir a pergunta: Idade?
            - Vou repetir a resposta: 450 anos!
            - O senhor está pensando que está falando com algum idiota?
            - ... (cara de paisagem)... (com um quase sorriso nos lábios).
            - Quer que eu acredite que, permita-me descrevê-lo, com essa inigualável beleza e esse povo alegre e descontraído, você teria toda essa idade? Ainda mais com o histórico, digamos, inconsequente, de seus administradores?
            - Caraca, ele gostou de mim.
           - Silêncio! Vamos logo para as acusações. Pergunto, então, ao réu, primeiramente: como o senhor explica a quantidade de pessoas que invadem suas praias e seus calçadões, inclusive em dias úteis, denotando a sensação de que, por aqui, o índice de desocupados estaria acima do razoável?
         - Bem, em relação aos desocupados, to nem aí, mas, em felicidade, descontração, alegria, receptividade e bom humor o nosso índice é bem superior ao razoável.
          - Registre-se que o réu deturpou a pergunta. Vamos à próxima acusação: o que me diz da proliferação de balas perdidas?
            - Bala perdida? Tem alguma que não é?
            - ... só eu faço perguntas! Seguinte: O que você pode nos dizer sobre tantos furtos e roubos que se praticam por aqui?
            - Deixe-me ver... o mensalão foi por aqui? E a Operação Lava Jato? Talvez eu lembre algo sobre aquele Juiz, conhecido como “Lalau”... (foi interrompido pelo meritíssimo).
            - O meu tempo é curto, vamos para outra acusação. Consta nos autos que a maconha tem sido consumida indiscriminadamente nesta cidade.
            - Qual é... É remédio...
          - Chega! Isso não pode ser uma cidade séria! Está suspensa a sessão! E, por favor, senhores jurados, ao retornarem, venham com trajes adequados. Não permitirei mais o uso de sunga e fio dental neste recinto!

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