Eu pensei que o professor fosse
eu!
Mas aquele dia me surpreendi com
os encantos e as descobertas de um aprendiz.
A aula estava um pouco monótona e
resolvi improvisar e fazer uma pergunta, que, na minha perspectiva, seria mais
descontraída, afinal, eram crianças, logo, me considerei preparado para
respostas, digamos, não tão elaboradas assim. Confesso que a minha intenção era
um pouco de diversão:
- Pedrinho, o que você quer ser
quando crescer? – perguntei.
- Eu quero ser minoria,
professor! – ele me respondeu.
Esbocei um leve sorriso, mas,
rapidamente me contive.
Com certeza ele ouvira aquela
palavra expressa num determinado contexto e a interpretou à sua maneira, como
seria normal numa criança.
Temendo algum tipo de constrangimento,
evitei questionamentos sobre o que ele sabia sobre a palavra “minoria”, mas foi
aí que sua aula começou:
- Professor, tem criança que não
tem brinquedo, né?
- Sim, Pedrinho, infelizmente. –
respondi.
- E acho que elas não vêm pra
escola! Aqui todo mundo tem um montão de brinquedos, né? – insistiu o menino.
- É verdade. – concordei.
- E a casa delas não deve ser
legal porque quando meu pai me trás de carro pra escola eu vejo pela janela um
montão de meninos descalços na rua, sem camisa e sem brinquedos. – continuou.
- Muitos deles, sim. – consenti
já intrigado com o rumo daquelas afirmativas.
- Os meus primos e os meus amigos
do condomínio quando fazem muita bagunça ficam de castigo e sem o videogame,
mas meus tios me disseram que aqueles meninos que já não têm escola, não ficam
em suas casas e não têm videogame ainda vão ter que ir pra cadeia dos adultos
quando fizerem malcriação, porque só a minoria não quer assim. Quando eu
crescer eu quero ser minoria!
Fiquei atônito, sem saber o que
dizer, sem saber o que pensar!
Minha única reação, além da
vergonha de ser adulto, foi sussurrar:
- Quando crescer eu quero ser
criança!