terça-feira, 18 de junho de 2013

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26/09/2007 -- 00h00
Um país de(a) mentira
'Confesso que fiquei assustado, mas não desanimei e até quis saber se existia muita corrupção no Seraquistão'
Alberto Chahaira Sobrinho
 
Brasil! Brasil! Brasil!
Um país com uma seleção de futebol dessa categoria é o país mais feliz do mundo, gritava eu extasiado! ''Engano seu, amigo'', sussurrou um sujeito ao meu lado, com cara e sotaque de quem não era ''dessas bandas''. Irado, olhei para o indivíduo, e com atitudes nada amigáveis questionei sua afirmação, ao que ele me tranquilizou:
- ''Não é do seu país que estou falando, mas sim do meu, o Seraquistão''. E começou a relatar barbaridades sobre a sua pátria. Disse-me que o tal país é o maior exportador de jogadores de futebol do mundo, várias vezes campeão mundial das mais diversas categorias, mas a população estava descontente. E não era só com o futebol propriamente dito. ''O sistema de saúde é inacreditável! A imensa maioria do povo é extremamente mal-atendida, com hospitais sucateados, insuficiência de médicos e leitos e com filas intermináveis''.
Eu só não acreditei quando ele disse que ''não era raro alguém morrer na porta do hospital por falta de atendimento''. Só se as pessoas lá tiverem ''sangue de barata'', pensei. Mas logo ele emendou: - ''A educação pública é lastimável; escolas desestruturadas, professores mal-remunerados e desmotivados, orçamentos mal-empregados ou desviados pela corrupção''.
Eu já me preparava para dizer que nem tudo estava perdido quando ele começou a falar sobre a segurança: ''Em muitas periferias das grandes cidades temos que andar com colete à prova de balas. Enquanto não escurece. À noite é bom ficar bem longe''. Estava achando aquele gringo exagerado, mas resolvi perguntar sobre a classe média daquele país.

''Bem, eles têm planos de saúde, os filhos estudam em escolas particulares e moram em condomínios com cerca elétrica e muitos seguranças, mesmo pagando uma das maiores cargas de tributos do mundo, que, teoricamente, seriam devolvidos em serviços públicos para toda a população''. Que otários, pensei baixinho pra não ofender.
''Será que não existem leis no Seraquistão?'' A resposta foi demolidora: - ''Como existem leis até demais, só mesmo bons e caros advogados para saber interpretá-las, o que faz com que nossas cadeias e penitenciárias fiquem superlotadas; de pobres, logicamente''.
Confesso que fiquei assustado, mas não desanimei e até quis saber se existia muita corrupção no Seraquistão. Percebi mais ironia do que dúvida quando ele afirmou que ''não sabia se o maior foco era no Executivo, no Legislativo ou no Judiciário''. Do alto de minha vasta sabedoria vaticinei: - ''Vocês precisam escolher melhor os seus representantes”, e pedi para que falasse um pouco da história política daquele curioso país. Eu não devia ter perguntado. ''Bem, (quando ele começava com ''Bem...' era de matar) após um triste período de ditadura militar conseguimos a redemocratização do Seraquistão, ocasião em que a população elegeu o presidente da República, também conhecido como o ''Caçador de Marajás''. Foi cassado por corrupção! O seu vice assumiu e numa noite de Carnaval, ao lado de uma modelo com vestes precárias, teve um lampejo genial e produziu sua grande obra: o relançamento do FUSCA! Depois tivemos um sociólogo de esquerda e escritor muito conceituado. Sua declaração de maior impacto foi: - ''Esqueçam o que eu escrevi!’ Hoje temos um ex-operário alardeando que, com o Bolsa-Família muitos brasileiros estão satisfeitos. Acredita-se que alguns banqueiros estão muito mais''.
-''Chega'', gritei, ninguém passa por tudo isso sem sucumbir! Mas foi perplexo que escutei: 'Sabe de uma coisa, eu sou seraquistense e não desisto nunca!'''. Se esse país não fosse tão longe eu diria que já ouvi algo parecido - meditei sem dar muita bola para pensamento tão erudito. '' Mas quando você irá retornar para o seu país'', perguntei tentando encerrar o insólito diálogo. ''Breve, se possível antes do Carnaval, pois acredito que até lá já teremos resolvido o apagão aéreo. Mas sobre isso eu explico em outra oportunidade''.
Esses gringos... só pensam em Carnaval!
Brasil! Brasil!

ALBERTO CHAHAIRA SOBRINHO é bancário aposentado e escritor amador em Bela Vista do Paraíso
Alberto Chahaira Sobrinho
 
 
 
 
 
 
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05/03/2008 -- 00h00
CRÔNICAS - Alfinetadas
''Alfinete' - ela me interrompeu - me chame de 'alfinete'! Então era verdade! Ela só admitia que a chamassem de 'alfinete'!'
 
Ninguém conseguia entender o que havia acontecido com ela. A família estava desesperada e suplicou a minha ajuda. Éramos amigos de longa data. Apesar de havermos ficado muitos anos distantes, eu a conhecia muito bem. Era uma mulher admirável. Um equilíbrio invejável. O que teria ocorrido?
Toquei a campainha, nervoso e bastante ansioso.
Ela abriu a porta, me olhou e não pareceu surpresa.
- Então eles chamaram você também - falou ao mesmo tempo em que esboçava um quase sorriso.
- É assim que se recebe um amigo? - ironizei.
- Desculpe-me, mas é que imagino o motivo da visita.
- Bem, então vou direto ao assunto: o que está acontecendo com você?
- Comigo? Absolutamente nada!
- Mas por que não quer mais ser chamada pelo seu nome...
- ''Alfinete'' - ela me interrompeu - me chame de ''alfinete''!
Então era verdade! Ela só admitia que a chamassem de ''alfinete''! Tentei manter a calma, se é que é possível ficar calmo com tamanho absurdo. Olhei-a intrigado. Ela continuava impassível.
- Pois bem - falei tentando organizar os meus pensamentos - então me responda: que tipo de brincadeira é essa?

- Eu nunca falei tão sério com você como estou falando agora.
- Sério? Você diz que é um ''alfinete'' e quer que eu ache isso sério?
- Sim.
- Por que você diz ser uma coisa que na realidade você não é?
- Você é meu amigo?
- Lógico que sim!
- Então vejamos: você está há mais de cinco anos sem me ver, neste lapso de tempo você não me telefonou, não me escreveu, não sabia nem se eu estava viva, veio hoje aqui por insistência da minha família e diz que é meu amigo. Pois eu digo que sou um alfinete!
- Bem, você pode até estar zangada comigo, tudo bem, mas não justifica. E no seu trabalho? O que eles dizem disso?
- Nada.
- Não acredito.
- Quando eu fui contratada, eles disseram que eu não precisaria trabalhar depois do horário e que o meu salário nunca iria atrasar. Ah, disseram também que o chefe nunca iria me dar uma ''cantada''. Pois eu digo que sou um ''alfinete''!
- Isso é uma loucura! Você está precisando de um médico!
- Você está dizendo que eu estou louca?
- Na verdade, sim!
- Ótimo, o Chaves diz que a Venezuela é uma democracia, o Bush diz que o objetivo de suas guerras é a paz e os políticos brasileiros dizem que se empenham pela melhoria da educação. Pois eu digo que sou um ''alfinete''!
- Então é assim? Pois eu acho que só tem uma saída; vou ligar para o seu ex-marido e dizer que não será mais necessário mandar o dinheiro de sua pensão, afinal, um ''alfinete'' não precisa de dinheiro, não é mesmo?
- Bem, a gente sempre pode mudar o nome para ''agulha''!

ALBERTO CHAHAIRA SOBRINHO é bancário aposentado e escritor amador em Bela Vista do Paraíso
Alberto Chahaira Sobrinho
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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23/12/2009 -- 00h00
CRÔNICA - Papai Noel
'O Banco Central irá reduzir drasticamente os juros e até o final do ano estará na casa dos 3%'
 
 
Eis que encontro aquele bom velhinho de barbas brancas, sempre sorridente e feliz, em cima do seu tradicional trenó e não resisto à pergunta:
- E aí Papai Noel, como será o ano de 2010 para nós, brasileiros?
- Será um ano maravilhoso meu filho! Pra começar, já no período de férias não haverá filas nem atrasos nos aeroportos e rodoviárias, as estradas estarão praticamente sem buracos e o tráfego fluindo com tranquilidade, os preços do pedágio irão diminuir e o atendimento das empresas será impecável. Mas não para por aí. Será ano de Copa do mundo e, pode anotar, apesar de ainda não poder dizer se ganharemos, tenho certeza que o Dunga será eleito o técnico mais simpático do mundial. Quanto à segurança não se preocupe, a criminalidade irá diminuir substancialmente, pois os grandes criminosos serão presos e, o melhor, todas as liminares para soltá-los serão recusadas pelos juízes, sendo que os facínoras serão julgados em, no máximo, 6 meses após a prisão! Ah, temos eleições também! Que maravilha! A campanha será de alto nível, todos os(as) candidatos(as) terão excelentes propostas e o eleitor, como sempre, saberá distinguir com facilidade aquelas que melhor servirão ao País. Muitas lideranças novas irão surgir e haverá uma renovação incrível entre deputados e senadores. O Banco Central irá reduzir drasticamente os juros e até o final do ano o índice estará aproximadamente na casa dos 3%. Ao ano! E não podemos esquecer da educação! Sabe qual será a profissão mais valorizada em 2010? Isso mesmo, o professor! Salário justo, excelentes condições de trabalho, reconhecimento e alunos disciplinados. É o Paraíso! Mas você deve estar pensando que esqueci a saúde. Logo eu, com tantos séculos de vida? Pois pode ir cancelando o seu abominável plano de saúde! O nosso SUS será modelo de eficiência e agilidade no atendimento e receberemos representantes de todo o planeta que copiarão e levarão para seus países nossas saudáveis diretrizes para o setor. Ah, acabei de me lembrar, pegue já o seu Dicionário e risque essas duas palavras: CORRUPÇÃO E SUPERFATURAR; elas não terão mais uso no Brasil! Feliz Natal, meu filho!
-Tudo bem, eu acredito em Papai Noel!

Alberto Chahaira Sobrinho é pedagogo em Bela Vista do Paraíso

 
 
 
 
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16/09/2009 -- 00h00
Tédio
'Comigo nada acontece de errado. Só pra você ter uma ideia, até o senador que eu votei é honesto'
 
 
- Que tédio de vida!
- Do que você está reclamando?
- Eu? De não ter nada pra reclamar!
- Duvido!
- Não duvide, você pode se surpreender.
- Continuo duvidando.
- Comigo nada acontece de errado. Só pra você ter uma ideia, até o senador que eu votei é honesto.
- Não acredito!
- E no trabalho, meu chefe só me elogia e sistematicamente sou promovido.
- Que eficiência.
- Em casa então, que monotonia, meus filhos que são adolescentes sempre me obedecem, concordam com tudo que eu lhes digo e nos fins de semana pedem pra sair comigo. A minha esposa está sempre feliz. Mesmo quando saio tarde daquela ''cervejada'' com os amigos, ao chegar em casa ela abre um sorriso e vai logo dizendo: ''Quer que eu esquente a janta?''.
- Você precisa de ajuda, com urgência!
- Já tentei. Fui num famoso psicólogo, expus o meu problema e sabe o que ele me falou? Que gostou muito de mim e por isso não iria cobrar a consulta e que estaria sempre disponível no dia que eu necessitasse.
- Cara, a sua vida é um tédio! Mas, espere, esse chaveiro que você carrega, de que time é mesmo?
- Do Botafogo.
- Então nem tudo está perdido!

ALBERTO CHAHAIRA SOBRINHO é pedagogo e 'botafoguense'
Alberto Chahaira Sobrinho

            Amigos da leitura, escritores (anônimos e os nem tanto), trabalhadores, “coçadores” e derivados, acho que temos algo em comum: um texto, por melhor ou pior que seja, tem o poder de nos transportar para outra realidade, ou outro plano, ou até mesmo para um espaço indeterminado de nossa mente, que, por momentos, nos inspira a pensamentos, por vezes sublime e por muitas vezes não tão poéticos, como, por exemplo, “QUE LINDO!”, “QUE MERDA!!”, “ O CARA ESCREVE ATÉ MAIS OU MENOS”, “QUEM DEU UMA CANETA PRA ESSE MALA?”, “LINDO!”, “RIDÍCULO!”, e outros termos, digamos, mais exóticos, os quais prefiro classificar como “expressões culturais”, que são bem comuns após algum tipo de leitura.
            Àqueles que quiserem se “expressar culturalmente”, apresento alguns TEXTOS (crônicas, contos, frases, etc.), CONTEXTOS (nem todos os personagens são atuais, nem imortais, muitas irrealidades estão quase reais, muitas besteiras são somente besteiras mesmo, sem contar que não lembro a data da maioria dessas besteiras, etc.) E OUTRAS OUSADIAS (poesias? Hahaha...), torcendo para que já não tenham desistido da leitura até o momento.
 
            Estes primeiros textos, como foram publicados na seção de Crônicas, do Suplemento “Folha2”, do jornal “Folha de Londrina”, vão aparecer com fotos e até datas! Que luxo!