No clima da campanha - #agoraequesaoelas - abro espaço para que meus (minhas) 4 ou 5 leitores (as) possam saborear o delicioso e corajoso texto de minha filha, Letícia Chahaira:
JE SUIS FEMINISTAS!!!
“Não confunda liberdade com
libertinagem, mocinha”!
Qual “enrustida” Geni nunca foi
apedrejada por essa pérola da moralidade travestida de verdade do bom senso e
bons costumes?
A verdade é que, esse “bom senso”
do senso comum nunca nos comoveu.
Criolo, o rapper, canta que se
alguém lhe dirige a palavra, dizendo: “Muda essa roupa! Corta esse cabelo”! –
só resta responder- “O quê?! Vai todo mundo se fuder”!
Meu sonho é receber um convite
para uma “festa da vida” com a seguinte indicação (só para manter o modelo da
démodé tradição que cisma em nos “orientar” e uniformizar):
- Traje: fica a seu critério –
qual se sentir mais a vontade para aproveitar e não ter que se despir da sua
personalidade por mera formalidade.
- Cabelo: com o humor que ele
estiver no dia, não perca tempo com isso, só se você se sentir melhor, é claro!
(cumplicidade feminina, pessoal, sabemos que é verídico).
- Acompanhante: Se estiver
afim... a sua própria companhia pode ser a mais libertadora.
- Como se portar: Oi?
Brincadeirinha. Só pra saber se estava lendo tudo.
E hoje, vendo algumas letras de
Chico Buarque, descobri que meu subconsciente sempre foi feminista, mesmo antes
de alguma noção do que isso representa, num ato falho, cantei minha vida toda: “A
Rita levou meu sorriso, no sorriso dela meu assunto, levou junto com ela O QUE
LHE É DE DIREITO...” sim, o direito é dela! A Rita é uma feminista (além do bom
gosto de ter levado o disco de Noel, logicamente).
Sem hipocrisia! Algumas vezes me questiono
sobre certos radicalismos de alguns direcionamentos feministas (Feminista de
araque? Julgue-me), o ranço provinciano e limitado da opressão construída
historicamente, acredite, “está no meio de nós”, entretanto, esse levante
feminista que está posto, é tão útil quanto necessário para vislumbrar uma
passagem de uma Era, que “já não era sem tempo”, convenhamos. E deixo aqui
minha simplista sugestão de reflexão para quando for acometida por esse leviano
e preconceituoso pensamento:
Fomos reprimidas, sem direito ao
sufrágio, subtraídas, subjugadas, “sub” isso, “sub” aquilo, durante o maior
período da história humana que não nos humanizavam, que não nos valorizavam,
simplesmente, não nos equalizavam com o gênero masculino. Passado? Sabemos que
não. Cotidianamente temos que sublinhar e provar que somos boas o suficiente
para pertencermos a tal lugar, e, chega! - como diz o samba: “lugar de mulher é
onde ela quiser”.
Prenderam-nos, nos proibiram, nos rotularam, e pra sair desse enquadramento,
“só rasgando”, pois as leis estão aí, a democracia, a igualdade, a liberdade,
existe legalmente e aparentemente e se tem uma coisa que feminista não suporta
é manter aparência, por isso essa revolução, por isso, não só essa voz tamanha
e sim esse grito (o silêncio imposto por séculos, ensurdece, sabiam?!
Precisamos nos ouvir!).
Século XXI e não sou obrigada a
ouvir:
- “Nossa, por que você se esconde
e não usa uma maquiagem pra dar uma realçada? ”
- “Nossa, você faz boxe? Mudou de
lado, é? ”
- “Você vive sozinha, né?! Por
que não arruma um namorado para ter uma companhia? ”
- “Vixe, 27 anos, solteira... olha
Letícia, sem pressão, mas até você arrumar um namorado, até você casar com esse
namorado e resolver aí sim ter filhos... pense bem. Vamos congelar esses
óvulos! Melhor, né?!”
É... Eu sei, a indignação de
vocês lendo essas perguntas (pasmem, reais!!!), é a minha resposta.
Manuel
Bandeira poetizou por mim, por todas nós:
“Estou farto do lirismo comedido
Do lirismo bem comportado
Do lirismo funcionário público com livro de ponto, expediente,
protocolo e manifestações de apreço ao Sr. Diretor. (...)
Do lirismo bem comportado
Do lirismo funcionário público com livro de ponto, expediente,
protocolo e manifestações de apreço ao Sr. Diretor. (...)
Quero antes o lirismo dos loucos
O lirismo dos bêbados
O lirismo difícil e pungente dos bêbedos
O lirismo dos clowns de Shakespeare
O lirismo dos bêbados
O lirismo difícil e pungente dos bêbedos
O lirismo dos clowns de Shakespeare
– Não quero mais saber do lirismo que não é
libertação”.
Não queremos agradar ninguém, nem
desagradar. Queremos o direito de nos expressar, de decidir sentir o espírito
materno ou não; de ocupar espaços outrora predominantemente masculinos, pela
possibilidade, pelo merecimento, pela vontade genuína, queremos nos amar como
somos e desejamos que nos ame somente quem nos aceite como somos, não aceitamos
mais pré-requisitos que nos classifiquem como melhores ou piores mulheres. Nós
somos, estamos ocupando e nos assumindo como mulheres de direito. Igualdade. Compreendam. Tentem. Ou aceitem que dói menos.
Não tem mais volta. Agora é que são elas.